Antes de tomar uma decisão, é preciso avaliar se o incômodo faz parte de um período natural de adaptação ou se é realmente o caso de mudar os rumos

escolhi-faculdade-errada Escolhi a faculdade errada: como enfrentar o arrependimento?

Depois de anos de estudo, passando pelo ensino fundamental, médio e, às vezes, pelo cursinho pré-vestibular, chega a hora de receber o resultado do Enem e selecionar um curso para ingressar no ensino superior. A escolha da carreira pode ser uma das decisões mais importantes da vida de um jovem.

Num contexto em que é preciso pensar sobre qual caminho profissional seguir, alguns estudantes podem enfrentar o desafio do arrependimento ao notarem que a faculdade escolhida não corresponde aos seus reais anseios. Caso isso aconteça, especialistas ressaltam que é preciso avaliar toda a nova dinâmica de ensino, como as disciplinas estudadas, os professores e a convivência com os colegas, antes de tomar uma nova decisão.

Como a rotina da faculdade é bastante diferente da escola ou do cursinho, muitas pessoas podem se questionar se fizeram a escolha certa, especialmente no início da graduação. Segundo o fundador da Qstione – plataforma de análise de dados educacionais –, Fabrício Garcia, em entrevista à imprensa, todo curso de graduação começa pelo ensino de conhecimentos básicos e teóricos para, só depois, abordar a aplicabilidade desses conceitos.

O especialista em ensino superior, avaliação e currículo enfatiza, portanto, que pode ser precipitado que um aluno do bacharel em Direito, por exemplo, ou de qualquer outro curso, desista de uma faculdade logo no início. Isso porque, ainda não há uma visão ampla formada sobre o caminho que o aguarda e nem mesmo sobre como aquela área de conhecimento pode funcionar na prática.

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Nesse sentido, uma pessoa que se matricular em Enfermagem, por exemplo, precisa avaliar, antes mesmo de entrar no curso, o que ela espera da graduação. Se houver um incômodo no começo dos estudos, é preciso observar se esse sentimento faz parte apenas de um período natural de adaptação ou se realmente não existe compatibilidade entre o desejo do universitário e os percursos disponíveis para sua vida profissional futura.

A partir da análise desse novo cotidiano e suas nuances, é possível mudar de curso ou permanecer com uma visão mais realista da faculdade atual.

Cursos que as pessoas menos se arrependem de fazer

Uma das razões pelas quais as pessoas decidem fazer faculdade é a chance de receber uma boa remuneração. Assim, quando o estudante tem certeza sobre a carreira que escolheu, vale a pena permanecer no curso até sua conclusão.

Segundo um relatório divulgado pela Universidade de Georgetown, pessoas graduadas no ensino superior ganham uma média de 84% a mais em comparação aquelas que completaram somente o ensino médio. A conclusão do estudo é que o retorno financeiro é maior quanto mais elevado for o nível de escolaridade.

Uma pesquisa da plataforma ZipRecruiter mostrou que áreas como tecnologia, engenharia, saúde e negócios têm boas e melhores perspectivas de retorno salarial em comparação a quem estuda artes e humanidades. Essa possibilidade aumenta de acordo com as especializações e experiências, mas pode ser uma realidade mesmo no nível inicial da carreira.

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Além disso, os dados indicam que pessoas que começam a trabalhar com bons salários sentem-se mais satisfeitas com suas formações. A plataforma listou dez faculdades que os alunos menos se arrependem de fazer, e a porcentagem de satisfação daqueles que escolheram seguir carreira nessas áreas.

Ciência da Computação e Criminologia ocupam o primeiro e o segundo lugar, com 72% de satisfação. Em seguida, aparecem as Engenharias, com 71%; Enfermagem (69%); Saúde (67%); Administração e Finanças, ambas com 66%; Psicologia e Construção, com 65%; e Recursos Humanos, com 58% de satisfação.

Atividades práticas ajudam a tirar a dúvida

Como a graduação é somente uma parte dos planos que costumam ser traçados pelo estudante para o mercado de trabalho, é importante perceber esse momento como um passo para obter sucesso na carreira. Conforme o especialista em ensino superior Fabrício Garcia, o curso funciona como uma base para que o aluno se especialize ainda mais posteriormente.

Para descobrir se o arrependimento faz parte da fase de adaptação, orientadores profissionais, em pareceres a portais especializados, indicam que os estudantes tentem compreender melhor o curso escolhido, conversem com alunos que estejam em anos mais avançados e com profissionais da área. Essa busca e troca de experiência são essenciais para entender quais as possibilidades de estudo e de atuação no campo de conhecimento escolhido.

Além disso, participar de atividades práticas na faculdade também é indicado para que o futuro profissional possa experienciar um pouco do que o aguarda em termos de trabalho no cotidiano e perceber se o curso corresponde ao que ele imagina e deseja. Fazer estágios, nesse contexto, é uma opção para estabelecer um contato com o mundo real. Assim, é possível entender melhor o que é ensinado na graduação e seguir, ou não, no curso com mais certeza da decisão tomada.

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Buscar orientação vocacional pode ser importante

Passado esse período, contudo, se ainda houver dúvidas em relação à escolha do curso, é necessário avaliar outros aspectos como a estrutura da faculdade, o currículo do curso e o método usado nas aulas. O mesmo curso pode ser oferecido por diversas universidades e com enfoques e programas diferentes.

Assim, o problema pode não estar no curso em si, mas na instituição que o estudante escolheu. Caso o currículo oferecido não atenda ao que ele almeja para a sua estratégia de formação e entrada no mercado de trabalho, é possível solicitar transferência ou ingressar em outra instituição.

Já a falta de perspectiva na carreira pode ser um dos sinais que evidenciam a escolha errada. Quando a pessoa não se vê exercendo as profissões ligadas à área, não faz sentido continuar na graduação escolhida. Caso o número de disciplinas que chamam a atenção seja muito baixo, também é importante repensar a escolha.

Se mesmo depois de se informar sobre o curso, as disciplinas futuras e o mercado de trabalho da profissão, o aluno sentir que realmente não fez a escolha certa, a recomendação dos especialistas é buscar orientação vocacional. O aconselhamento pode auxiliar no processo de autoconhecimento e na busca mais assertiva por um novo curso que melhor atenda ao campo profissional desejado.